Bion, Wilfred R.

Wilfred_ bion

Wilfred Ruprecht Bion, nasceu em Mattra (hoje Mathura, Índia), a 8 de setembro de 1897.

Bion passou os oito primeiros anos de sua vida na Índia, onde seu pai era engenheiro da construção civil. Em 1905, o rapaz é mandado à escola na Grã-Bretanha. Em 1915, suspende sua escolaridade para alistar-se no Exército durante a Primeira Guerra Mundial, imediatamente antes de seu 18º aniversário.

De origem anglo-indiana por sua mãe, Bion pertencia, por parte de seu pai, a uma família de missionários protestantes – mais precisamente de calvinistas suíços de origem huguenote (denominação dada aos calvinistas franceses pelos seus inimigos nos séculos XVI e XVI). Se adicionarmos a essas origens religiosas o fato de que a família se viu isolada dos outros europeus por longos períodos, pois obrigada a deslocar-se de canteiro de obras em canteiro de obras, muitas vezes situados em regiões quase inabitadas, o jovem Wilfred encontrou-se em contato com duas culturas muito diferentes.

É nessa experiência de contraste e oposição, mas também de mediação e amor entre dois mundos, que se alicerça a idéia, cara a Bion, de que um indivíduo significa pertencer a um grupo e, simultaneamente, desligar-se dele, até mesmo opor-se-lhe.

A carnificina da 1ª Guerra Mundial não fez mais do que confirmar essa experiência; Bion incorporou-se ao Royal Tank Regiment (1916-1918), onde se distinguiu como um soldado e um chefe ímpar: por várias vezes citado em ordem do dia, recebeu a Distinguished Service Order e a medalha de cavaleiro da Légion d’honneur.

Por muito distantes que possam parecer da psicanálise, esses eventos fundadores de sua experiência alimentaram sua inteligência do terror, do medo, da dependência, do amor, do ódio em geral e do ódio à compreeensão e ao saber em particular. Tudo isso devia guiá-lo mais tarde em seus contatos profundos com os pacientes psicóticos.

Foi quando fazia o curso de história no Queen’s College, em Oxford (1919-1921), que ele descobriu os escritos de Freud. Desejoso de aprofundar seus conhecimentos em psicologia, iniciou seus estudos de medicina no University College Hospital de Londres (1924-1930), obtendo a medalha de ouro de cirurgia e a medalha de prata de diagnóstico. Em 1938, começou com John Rickman uma análise que o início da 2ª Guerra Mundial o obrigou a interromper.

Na qualidade de psiquiatra do Exército, foi então o iniciador de uma nova abordagem da terapia de grupo. Em 1945, reata uma análise com Melanie Klein. Durante a guerra, casou-se com uma atriz bem conhecida, Betty Jardine, que morreu tragicamente quando sua filha nasceu no mesmo ano de 1945.

Depois, em 1950, é admitido como membro associado da Sociedade Psicanalítica Britânica (B.P.S.). Bion ocupou sucessivamente diversos postos de responsabilidade: secretário (1933-1939), presidente (1946) da seção médica da Sociedade Psicológica Britânica; presidente do Bureau da Clínica Tavistock em Londres (1945); diretor da Clínica de Psicanálise de Londres (1956-1962) e presidente da Sociedade Psicanalítica Britânica (1962-1965). Permaneceu depois como membro ativo do conselho da S.P.B. e no exercício da presidência do Melanie Klein Trust até à sua partida, em janeiro de 1968, para a Califórnia. Aí trabalhou e lecionou até o seu regresso à Grã-Bretanha em 1979, alguns meses antes de sua morte. Nos últimos dez anos de sua vida, ensinou muito na América Latina. Em 1978, tornou-se membro honorário da Sociedade Psicanalítica de Los Angeles, e, em 1979, Honorary Fellow do A. K. Rice Institute.

As principais contribuições de Bion para a psicanálise dizem respeito à técnica psicanalíticae à epistemologia, com especial insistência sobre o próprio processo de reflexão.

Ele abordou este último tema de diversos potos de vista (ou vertex) – o do grupo, do psicótico, do esquizofrênico, do paciente borderline ou caso-limite, e o do pensador individual, ‘gênio’ ou não, que tem que enfrentar a pressão de ataques, do interior ou do exterior, devidos à hostilidade para com o processo de reflexão e os pensamentos que daí resultam. Entre os principais conceitos que ele desenvolveu assinalemos os de ‘devaneio baseado na atenção flutuante’, de função alfa, pela qual Bion acreditou poder substituir a teoria freudiana dos processos primário e secundário, de elementos alfa e beta, de conteúdo e continente e de perspectiva reversível.

Todos os seus livros têm a reputação de ‘difíceis’, sobretudo o último, ‘A memoir of the future’ (Uma memória do futuro, 1975[1979] ). O leitor que consegue superar todas as dificuldades e chegar ao fim desta trilogia é amplamente recompensado por seu esforço. Citemos as principais entre suas outras publicações: Experiences in groupes (Experiências com grupos, 1961); Four Servants (Quatro domésticas, 1977) e Attention and Interpretation (Atenção e interpretação, 1970). A influência de Bion no domínio de psicoterapia de grupo e na elaboração de técnicas de grupo mais ou menos afins foi ao mesmo tempo rápida e generalizada. No campo da psicanálise, em contrapartida, e apesar de sua reflexão estar largamente enraizada na de Freud e Melanie Klein, suas idéias e teorias inovadoras suscitaram viva controvérsia e tiveram dificuldade em impor-se antes dos anos de 1970.

Passou seus últimos anos em Los Angeles, Califórnia.

Realizou diversos seminário no Brasil a partir da década de 1970, influenciando profundamente diversos profissionais da área Estão editadas no Brasil as seguintes obras de W. R. Bion mais conhecidas:

O aprender com a experiência;

Atenção e interpretação;

Cogitações;

Conferências brasileiras;

Conversando com Bion;

Experiências com grupos;

Uma memória do futuro e Transformação (Editora Imago);

Os elementos da psicanálise (Zahar Editores).

Após se tornar célebre, no fim da vida retorna à Inglaterra, e morre de leucemia a 8 de novembro de 1979.

(FONTES: PLON, M.; ROUDINESCO, E. Dicionário de Psicologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998; MIJOLLA, A. de (dir.). Dicionário internacional de psicanálise: conceitos, noções, biografias, obras, eventos, instituições. Rio de Janeiro, Imago, 2005, p. 238-240).

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