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14o Encontro – Psicoterapia Psicanalítica Expansões em Psicoterapia Psicanalítica

  • No dia 23 de outubro acontece o 14º Encontro do Curso de Especialização e Psicoterapia Psicanalítica Expansões em Psicoterapia Psicanalítica, do Instituto de Psicologia (IP) da USP.
    Serão abordados tópicos como ciúme, fobia e pânico, sonhos e ética em psicoterapia.
  •  Realização :
Instituto de Psicologia da USP
Curso de Especialização Psicoterapia Psicanalítica- IPUSP
SBPSP: Sociedade Brasileira Psicanálise de São Paulo
SEDES: Sedes Sapientae
SBPRJ: Sociedade Brasileira Psicanálise do Rio de Janeiro
SPPel: Sociedade Psicanalítica de Pelotas
APP: Associação Psicoterapia Psicanalítica


www.ip.usp.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1868:psicoterapia-psicanalitica-expansoes-em-psicoterapia-psicanalitica&catid=45:eventos&Itemid=83

” Quando o corpo fala mais alto…. “

“ A multidão dos que não viveram o suficiente… Não é de uma carpideira que precisam, é de um adivinho. Precisam de um Édipo que lhes explique seu próprio enigma, cujo sentido não detém… É preciso ouvir palavras que jamais foram ditas, que ficaram no fundo dos corações ( prescrute o seu coração: elas estão lá ); é preciso fazer com que os silêncios da história falem.”
Mcdougall, Joyce apud Michelet, Jules 1842.
Segundo Mcdougall : “ desafetação, onde as palavras não tem mais sua distinção primordial, isto é sua função de ligação pulsional, existem apenas como estruturas congeladas, esvaziadas de substancia e significação”.




“ O afeto não pode ser concebido como acontecimento puramente mental ou puramente físico. A emoção é essencialmente psicossomática. Assim o fato de ejetar a parte psíquica de uma emoção permite a parte fisiológica a exprimir-se como na primeira infância, o que leva a resomatização do afeto. O sinal do psiquismo reduz-se a uma mensagem de ação não verbal. Os indivíduos que tratam a emoção desta maneira são presas potenciais de explosões somáticas de todos os tipos, quando determinados acontecimentos ( acidentes, nascimentos, luto, divórcio, abandono ) ocorrem.”


Assim na busca de um sentido possível, penso também na relação mãe e filha, na angustia de separação, a impossibilidade fantasiada de se individuar segundo Mcdougall a impossibilidade de deixar o corpo-mãe, criando desta maneira um corpo combinado no lugar do próprio corpo, corpo que o psiquismo tenta fazer “falar”.


McDOUGALL – Especialissima… imperdivel…


in Percurso, São Paulo, Vol.18, p.1O4-1O6, 1997.”Para um psicanalista, publicar um livro dito de Psicanálise é também de certa forma se publicar, revelar um fragmento de si.”

A melhor maneira de apresentar Joyce McDougall é convidando o leitor a visitar sua obra. Autora de 5 livros , traduzidos em mais de dez línguas, dentre as quais o japonês e o hebreu, e de inúmeros artigos, solicitada à dar conferências no mundo inteiro, até mesmo na India, convidada pelo Dalai-Lama interessado na importância de Freud na cultura ocidental, Joyce McDougall soube tirar partido dos conflitos nas Sociedades anglo-saxônicas e francesas, para construir uma obra pessoal ao abrigo de todo sectarismo.
O compromisso para com a sua própria verdade, torna a obra de Joyce McDougall um trabalho de referência, onde o leitor é constantemente remetido às suas próprias questões, num continuo movimento de confrontação com seus aspectos neuróticos, psicóticos, perversos e normopatas.

O interesse de Joyce McDougall pela psicanálise começa aos 17 anos quando lê apaixonadamente a “Psicopatologia de vida cotidiana” de Freud. A partir desse encontro decisivo, Joyce decide estudar psicologia em vez de medicina, como era o desejo da família. Ela se inscreve então na Universidade de Otago onde lê todas as obras de psicanálise alí disponíveis, ao mesmo tempo em que sente crescer o desejo de fazer uma análise pessoal e o de tornar-se analista.

A originalidade do “método McDougall” reside na constante prática de uma “teorização flutuante” indissociável de movimentos transferências e contra-transferências. Afirmando não haver diferenças nítidas entre a teoria e a clínica psicanalítica, Joyce McDougall sustenta que os casos clínicos em si nada provam, servindo apenas para ilustrar uma concepção teórica. Nesse sentido, o perigo é que as teorias se transformem em dogmas ao ponto de, na tentativa de prová-las, a escuta clínica seja comprometida.

A metáfora do Teatro como local dos conflitos psíquicos é central em sua obra. (Teatros do eu, Teatros do corpo) Nesse espaço Joyce cria seus conceitos originais tais como os de atos-sintomas, de neo-sexualidades, adicção, sexo-adicto, ou ainda termos chaves como os de anti-analisando, normopatia e desafectação. Partindo da força criativa de Eros, o trabalho psicanalítico oferece a possibilidade de criar novos cenários mais adaptados a uma vida psíquica harmoniosa evitando a repetição de cenários infantis dominados por angústias imaginárias ou reais.

Muito solicitada internacionalmente, sobretudo entre os anglo-saxões, Joyce faz uma espécie de ponte entre a escola inglesa, americana e francesa tentando, sem nenhum sectarismo, sublinhar a riqueza e a particularidade de cada escola.

O lugar de destaque que ocupa Joyce McDougall na psicanálise contemporânea é indiscutível. Fiel à sua posição de analista, seu contínuo movimento de questionamento faz com que ela forje suas próprias respostas quando não encontra as que julga adequadas. Ainda que se possa não concordar com todas as suas posições teórico-clinicas, não se pode negar a força de persuasão de seu trabalho clínico assim como o seu imenso talento para traduzir em palavras os sentimentos, as paixões, enfim, todos os movimentos do funcionamento psíquico.

Paulo Roberto Ceccarelli*