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“””” A psicanálise Kleiniana tem sido vista com frequencia como um dos paradigmas clinicos e

teóricos dominantes na Inglaterra.

O mesmo pode ser dito em relação à psicanalise Lacaniana na França.

Este livro me fez pensar sobre ambas.

A capacidade de diálogo pode favorecer vivencias, confluencias e diferenças. “””

Instigante…

Vértices Bionianos…

Os vértices bionianos podem ser pensados como pontos de vista simultâneos e multidirecionais assestados sobre um evento; evento definido por nossa percepção desse conjunto infinito de relações que nos remetem à pré-concepção: a criança e seu mundo preconcebidos num interjogo onde ambos são continente e contido.

Posições sutilmente mutáveis, onde continente torna-se contido e vice-versa; assim, o filho torna-se continente da “maternidade” de sua mãe. Falando em termos de vértices, a conjugação de nossos dois modos de ser através de uma atitude de sem memória sem desejo talvez decorra de uma atitude de desapego de qualquer vértice, uma atitude de não–vértice.

O modelo bioniano parece-me prenhe de esperança. Faz pensar em compaixão, um sentimento da unidade possível pelo abandono de posições estabelecidas, ou como diria Freud, desinvestimento de bezetzungen.


Relembro o poema número treze do TAO-TE-KING, onde Lao-Tse nos fala quase literalmente da ausência de memória e desejo:

Favor e desfavor geram angústia
Honras geram dissabores para o ego.
Por que é que o favor e desfavor geram dissabores?
Porque, quem espera favor paira na incerteza.
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor, também paira na incerteza:
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Por que é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
De alguém ser um ego.
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego,
Não haveria mais dissabores.
Tao-Te-King Poema 13
(Versão de Humberto Rohden)

Desapegar-se da memória emocional do próprio nome, das origens, da posição, das perdas e desfavores.

Desapegar-se do desejo emocional do poder de cura, da fama, dos títulos, dos ganhos e favores.

Proponho o sem memória sem desejo não apenas como atitude técnica ou metodológica, mas antes de tudo, uma atitude ética do analista.

Sugiro até uma forma mais coloquial de dizê-lo: sem preconceito sem expectativa.

*CAMINHOS DA INTERSUBJETIVIDADE: FERENCZI, BION, MATTE-BLANCO
Ignácio Gerber

Compulsão – Congressso Febrapsi


“” A dança das compulsões””

O poeta Carlos Drummond de Andrade, no livro “Corpo”, publicou um pequeno poema chamado “Mudança”:

O que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?

Permitindo-me o empréstimo do poema para pensarmos sobre as COMPULSÕES, podemos olhá-las como se fossem uma espécie de dança.

O que isso quer dizer? Penso que as mais variadas compulsões, desde os famosos gestos de verificar várias vezes se a porta está trancada, ou lavar as mãos sem parar, ou os abusos de drogas, comida ou sexo, todas estas atividades são um vai e vem, e volta, e rodopia para lá e para cá, que acabam não saindo do lugar. É como um pião.

Mas isso é assim em função de quê? O que o indivíduo ganha com isso? Para a reflexão, é necessário observarmos por vários ângulos: do ponto de vista externo, um observador vê o obsessivo se movimentar como um pião sem sair do lugar, nada muda com a mudança, ou com a dança, junto ao que nunca se alcança; mas do ponto de vista de dentro para fora, o ponto de vista do obsessivo, podemos pensar que toda essa dança de repetições, obrigações, pensamentos que invadem a mente da pessoa etc, são tentativas no trajeto da esperança de se elaborar conflitos ou traumas escondidos nos recônditos do inconsciente.

Esses indivíduos aprisionados nessas eternas repetições, enjaulados em si mesmos, estão tentando, através da repetição, dar uma nova chance a vida, para que desta vez algo novo aconteça. E o que é esse o novo? O novo é, pela primeira vez, o indivíduo encontrar alguém neste mundo que colabore com ele no sentido de ‘digerir’, de ‘desengastalhar’, algo que ficou indigesto no seu psiquismo por anos, às vezes décadas.

Os sintomas compulsivos são como pesadelos que tentam ser sonhos, mas não conseguem pois são interrompidos por algum evento assustador demais, indigesto à mente; eles são tentativas de se elaborar um material psíquico indigesto, mas que a pessoa, sozinha, não dá conta. Ela carece de outro ser humano que a ‘inspire’ para levar adiante esta tarefa. Este é o papel do psicanalista frente aos que sofrem de compulsões: colaborar com a transformação de seus ‘pesadelos’ em ‘sonhos’, para que assim eles possam tomar um destino útil, fértil e criativo na vida.





Paulo de Moraes Mendonça Ribeiro
Membro Efetivo da SBPRP e da SBPSP