Silêncio nos dias atuais, e a capacidade de estar só.

Considerações sobre o silêncio na clínica psicanalítica: dos primórdios aos dias atuais.

Camila Braz Padrão*

fonte na integra : _sobre_o_silencio_na_clinica_psicanalitica.pdf

Tempo?

Tempo parece ser tudo que não temos.

Correndo contra o relógio tentamos dar conta de uma série infindável de compromissos que parecemos não ter escolhido, que apenas se impõem a nós numa tentativa sem sentido de “se encaixar na prateleira” das inúmeras exigências de performance que caracterizam uma sociedade do espetáculo.

E entre trabalho, filhos, academia, trânsito, mercados e bancos, não há tempo a perder e qualquer momento de espera nos parece perda de tempo.

Mas esperar em silêncio é, certamente, pior que apenas esperar.

Então, esperamos o ônibus com nosso MP3 player, esperamos a volta da novela com as baboseiras dos anúncios, esperamos a fila do banco cantando.

O interminável jantar só pode ser suportado com a TV ligada, mesmo que não a olhemos, pois o que nos serve é o barulho.Pelo insuportável que o esperar comporta para nós, sujeitos contemporâneos, o fazemos sempre na companhia de algum recurso sonoro que preencha o não menos insuportável silêncio desses momentos.

Assim, o autor afirma que a capacidade de estar só constitui um fenômeno altamente sofisticado, que depende inicialmente da existência de um ambiente suficientemente bom no plano do real, que por sua vez, pode ser internalizado como um objeto bom na realidade psíquica do indivíduo.

“Há sempre alguém presente, alguém que é (…) equivalente, inconscientemente, a mãe, (…) na ocasião interessada em mais nada que não fosse seu cuidado” (Winnicott, 1983, p.37). Presença essa que, ao longo do desenvolvimento emocional, vai se constituindo como um objeto interno.

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