Posições sutilmente mutáveis, onde continente torna-se contido e vice-versa; assim, o filho torna-se continente da “maternidade” de sua mãe. Falando em termos de vértices, a conjugação de nossos dois modos de ser através de uma atitude de sem memória sem desejo talvez decorra de uma atitude de desapego de qualquer vértice, uma atitude de não–vértice.
O modelo bioniano parece-me prenhe de esperança. Faz pensar em compaixão, um sentimento da unidade possível pelo abandono de posições estabelecidas, ou como diria Freud, desinvestimento de bezetzungen.
Honras geram dissabores para o ego.
Por que é que o favor e desfavor geram dissabores?
Porque, quem espera favor paira na incerteza.
Sem saber se o receberá.
Quem recebe favor, também paira na incerteza:
Não sabe se o conservará.
Por isto causam dissabor
Tanto o favor como o desfavor.
Por que é que as honras geram dissabor?
Todo dissabor nasce do fato
E não é possível contentar o ego.
Se eu pudesse libertar-me do ego,
Não haveria mais dissabores.
Desapegar-se da memória emocional do próprio nome, das origens, da posição, das perdas e desfavores.
Desapegar-se do desejo emocional do poder de cura, da fama, dos títulos, dos ganhos e favores.
Proponho o sem memória sem desejo não apenas como atitude técnica ou metodológica, mas antes de tudo, uma atitude ética do analista.
Sugiro até uma forma mais coloquial de dizê-lo: sem preconceito sem expectativa.
Ignácio Gerber